A PESCA ARTESANAL CAIÇARA
A pesca caiçara origina-se em consequência das formações de comunidades
marítimas e litorâneas no Brasil a séculos atrás, esse era e continua sendo um
dos principais meios de subsistência que esses indivíduos encontram nesses
territórios. “Através da pesca artesanal os pescadores exploram o ambiente
aquático de forma peculiar e mantêm grande diversidade de interações diretas
com o ambiente.” (RAMIRES, M.; MOLINA, S. M. G.; HANAZAKI, N.) Trata-se de um
conhecimento centenário que é passado de geração em geração por mestres através
da memória oral, onde o saber-fazer da pesca se perpetua até que novas gerações
se encarreguem de aprender esse ofício. A cada nova geração de mestres que
surge, ocorrem mudanças no saber-fazer da pescaria artesanal, seja por
melhorias nas técnicas de captura de peixes, mariscos ou frutos do mar,
aprimoramento de equipamentos que são utilizados ao longo de todo processo, por
mudanças demográficas e ecológicas do ambiente, ou até mesmo em decorrência de
alteração das leis específicas da região que aquele pescador utiliza como fonte
de extração.
Por meio de entrevistas com as mestras e os mestres pescadores caiçaras
da cidade de Cananéia, extremo litoral sul do estado de São Paulo, foram
levantadas algumas informações que vai nos ajudar a adentrar um pouco mais na
cultura da pesca, conhecer um pouco mais de sua história, e aprender um pouco
mais sobre esse ofício.
MOVIMENTOS COLETIVOS: COLÔNIA DE
PESCADORES – Um dos principais expoentes dos movimentos coletivos dos pescadores, a
colônia realiza um papel fundamental na comunidade caiçara, completando quase
um século em 2021. “Nascida em 1926, a Colônia de Pescadores Z-9,
"Apolinário de Araújo" só foi formalizada em 26 de abril de 1985, representando
a categoria de Pesca Artesanal, entretanto não era conhecida como sindicato.
Após 23 anos de luta, em 13 de julho de 2008, com a lei 11699, as Colônias de
Pescadores passaram a ser representantes legais da Categoria da Pesca
Artesanal, contra pesca predatória e degradação ambiental. A colônia de
Pescadores Z-9 "Apolinário de Araújo" é uma entidade da sociedade
civil sem fins lucrativos que representa os pescadores associados, no que se
refere aos direitos e deveres junto aos órgãos públicos na esfera Municipal,
Estadual e Federal. Esse trabalho é importante para fortalecer a categoria da pesca.
Orientando os pescadores sobre as leis e a conservação da natureza. A colônia de
pescadores busca desenvolver ações em prol da categoria da pesca artesanal,
orientando e transmitindo aos seus associados informações sobre a atividade.
Buscando sempre melhoria para a classe. Colaborando com os planos gerais das
atividades pesqueiras, discutindo, votando e fazendo fazer valer a lei em
vigor. O objetivo é fazer com que os pescadores busquem saber seus direitos e
deveres como cidadãos.“ (Colônia de Pescadores Z-9 Apolinário de Araújo).
O conjunto de ações realizadas pela colônia caracteriza a importância do
órgão para os pescadores, através dela são feitas as reuniões que definem os
rumos da pesca artesanal naquela localidade, “Os
encontros acontecem conforme a demanda de assuntos a serem passados aos
pescadores, através de assembleias e reuniões nas comunidades distantes. Hoje
devido a pandemia não conseguimos nos reunir presencialmente, o contato com os
pescadores atualmente se dá através das redes sociais, Whatsapp, Facebook ou
através da rádio comunitária.“ (SORAIA APARÍCIO)
AVANÇOS, MUDANÇAS E IMPASSES
No decorrer das entrevistas, falamos um pouco sobre avanços, mudanças e
impasses no ofício da pesca artesanal, algumas das informações relatadas foram
que, nos últimos anos tem se notado de acordo com alguns pescadores, a
diminuição da quantidade de peixes no mar pequeno da cidade de Cananéia,
acontecendo inclusive de peixes que eram pescados antigamente deixarem de
aparecer, no caso dos mariscos, além da diminuição da quantidade nos
manguezais, novas espécies tem surgido nos últimos anos. Os pescadores e
pescadoras relatam também as dificuldades na logística da venda que enfrentam
desde o passado, pois entre o processo de captura e consumo das mercadorias
existem um longo caminho a ser percorrido, tendo na maioria das vezes que
contar com um atravessador no meio de tudo isso, desvalorizando o produto e
dificultando a manutenção da profissão. No geral, quanto aos métodos e
ferramentas utilizados pouca coisa mudou de um tempo pra cá, as maiores
mudanças relatadas foram das embarcações que são utilizadas, já que antigamente
eram as canoas confeccionadas pelas caiçaras, hoje em dia o acesso a barcos
movidos a motor se tornou mais fácil.
A TRADIÇÃO DAS FESTAS DOS PADROEIROS DOS PESCADORES
Um outro lado muito forte da cultura da pesca, são as festividades
religiosas dos padroeiros das comunidades caiçaras, cada qual com seu padroeiro,
mas que tem em comum a busca pela comunhão dos indivíduos através de momentos
de troca em espaços comunitários. Alguns dos santos padroeiros das comunidades
caiçaras de Cananéia são Santo André, São Vito, São Pedro e Nossa Sra. dos
Navegantes, as festividades geralmente se iniciam com as celebrações católicas,
fazendo primeiro uma missa de celebração, depois são feitas algumas atividades
ao longo do dia, terminando com uma festa que reúne os pescadores, regada de
fandango, comida e bebida, sendo dia de descanso para o pescador para celebrar
o seu padroeiro.
Mas para que tudo isso ocorra, existe um trabalho que acontece no
decorrer do ano todo, onde as famílias caiçaras se unem em prol da realização
desses festejos, angariando fundos e planejando as ações que visam o momento
final, que é a materialização desse esforço para que se mantenha viva a
tradição e que se faça presenta o agradecimento às divindades que os acompanham
em sua fé.
https://periodicos.ufsc.br/index.php/biotemas/article/download/20785/18880/66100
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